Marginais Heróis

O projeto “Marginais Heróis” se propõe a explorar as linguagens visuais, o uso de tecnologias híbridas e as ações de preservação do patrimônio gráfico brasileiro, memória e identidade.

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São Paulo, 2012-15

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Cartaz + Exposição

Rápidos, baratos e descartáveis, os cartazes tipográficos resistem heroicamente em sua marginalidade. À margem do sistema produtivo, da indústria gráfica, da legislação urbana, do design, da arte, do mercado, desafiam teimosa e eficazmente a tecnologia, a cultura e a estética. Se comparada com a rusticidade do lambe-lambe, a precisão do offset é numérica, quase abstrata, sua fisicalidade reside no seu total controle dos processos, formatos, suportes e tiragens. Herdeiro direto da litografia, sua expressão atual é no entanto digital: não é mais limitada pela técnica mas pelo espaço de veiculação e pelo direito autoral. 

A exposição “Marginais Heróis” investiga essa abordagem partindo do cartaz, expandindo e recontextualizando sua sintaxe, linguagem e técnica de produção. Deslocados do ambiente urbano e desprovidos de sua função primeira de informação imediata ou comercial, a série de trabalhos que compõe a mostra ao mesmo tempo obedece e subverte alguns procedimentos oriundos da gravura, da pintura, do design, da monotipia. Produzidos em série, cada um é no entanto uma peça única onde, apesar do planejamento projetual, o resultado é randômico, empírico, imprevisível. Do ponto de vista técnico, a oposição entre precisão e controle da imagem digital e a rudimentar imprecisão da impressão analógica geram atrito e energia nessa superfície gráfica bidimensional. 

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A um só tempo, é uma obra de alto conceito e baixa impressão, resultante de um processo que combina tipografia tradicional com letras de madeira e chumbo sobre impressões digitais de grande formato (66 x 96 cm). O processo de produção da obra original de Rico Lins, ponto de partida do projeto, foi possível graças à longa colaboração com a Gráfica Fidalga — um dos últimos redutos de impressão tipográfica em grande formato em São Paulo.

Tendo por mote a frase recorrente “Seja Marginal Seja Herói”, é um tributo à obra Bandeira-Poema, de Hélio Oiticica. O lema de Hélio serve como ponto de partida para uma investigação das dimensões tipográfica e pictórica da marginalidade. Misturando retratos oriundos de uma galeria de heróis e marginais, cria-se uma malha vibrante de fotos pixeladas e tinta borrada, palavra e imagem, colagem e grid.

A primeira versão da instalação “Marginais Heróis” foi concebida inicialmente como parte integrante da exposição “From the Margin to the Edge”, inaugurada na Somerset House de Londres onde permaneceu entre julho e setembro de 2012. Sua continuação se deu no ano seguinte em Buenos Aires e Berlim, sendo pela primeira vez apresentada no Brasil em uma exposição na Galeria Amparo 60, integrada com ações de arte e educação que conta com recursos do Funcultura.

A mostra aprofunda o processo de feitura da obra e amplia seu olhar e abrangência ao convidar dois artistas pernambucanos para dela participarem. Por um lado o processo analógico do trabalho dialoga com uma série de matrizes de madeira das tradicionais xilogravuras de J. Borges. Pelo outro, o ambiente digital se desmaterializa e incorpora o erro, a falha e o ruído através do aplicativo para smartphones concebido por HD Mabuse.

Marginais Heróis e seus processos

Mantendo-se fiéis à tradição tipográfica, a Fidalga produz manualmente os cartazes em uma máquina alemã da década de 1920. Responsável por uma imensa variedade de cartazes lambe-lambes, costumava vestir as paredes da cidade com mensagens diretas em letras garrafais. Precários e descartáveis, anunciavam de comícios a shows populares, atraindo a atenção de jovens grupos de artistas envolvidos com poesia e street art. Peça fundamental no quebra-cabeça visual de São Paulo, sofreu ação direta da Lei Cidade Limpa, que a partir de 2007 passou a proibílos e a gráfica quase fechou as portas. Hoje, a Fidalga trabalha sobretudo com artistas e galerias.

O primeiro contato profissional de Rico Lins com a Gráfica Fidalga se deu no início dos anos 2000, com uma série de cartazes criados para a exposição “Brasil em Cartaz”, que organizou em Chaumont, na França. Com um layout intrincado — textos em francês e portugues, diferentes tamanhos, distribuidos vertical, horizontalmente ou invertidos — a montagem da rama (matriz de texto) alterava a prática de composição à qual estavam habituados.

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Somerset House Gallery – Londres

Em 2012, dezenas de cartazes originais foram colados diretamente às paredes da galeria, remetendo ao processo de colagem de cartazes. Para retirá-los, só arrancando. A montagem transformou-se assim em ação artística, impossível de ser repetida com a mesma configuração.

Centro Metropolitano de Diseño – Buenos Aires

Em 2013, os cartazes ocuparam o CMD. Pendendo do teto da galeria, justapostos frente e verso, convidavam o espectador a circular em torno deles, deslocando o cartaz de seu contexto. Neste mesmo período, em Berlim, foram vistos no espaço experimental Nave Atelier.

Galeria Amparo 60 – Recife

Em 2015 a exposição veio para Recife, onde o trabalho dialoga com artistas locais e incorpora outras linguagens e novas formas de interatividade.

Museu Nacional da República – Brasília

Ainda em 2015, Marginais Heróis integrou a exposição GráficosRCA: 50 anos e além – Royal College of Art, contando com palestra e workshop de Rico Lins

Museu da Casa Brasileira – São Paulo

Em 2016, a exposição fica em cartaz no MCB, em sintonia com a 30ª edição do Prêmio Design MCB. A exposição contou com visita guiada e oficina sobre cartazes.