Rico Lins: Uma Gráfica de Fronteira

O projeto “Rico Lins: Uma Gráfica de fronteira” nasceu de um convite que o curador da exposição, Agnaldo Farias, me fez anos antes da exposição efetivamente acontecer, quando ele dirigia o MAM do Rio. Nas palavras dele, a proposta era criar “um ambiente no qual eu realizasse uma espécie de instalação capaz de traduzir minha visão de mundo, algo que só um designer gráfico é capaz de ter, encarnada em palavras e imagens, papéis e projeções”.

Criado em


Brasil, 2009 – 2011

Categoria


Exposição + Editorial

Prêmios


Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) pela Obra Gráfica em 2010 e Prêmio Jabuti 2010 pelo projeto gráfico do catálogo.

Foi instigante e desafiador porque veio acompanhado da sugestão de fugir à formalidade do quadro na parede e veio ao encontro a algumas idéias centrais do meu trabalho, entre elas a de propor uma discussão, por meio dos trabalhos do design, sobre a fronteira e os imprecisos limites entre as artes gráficas e plásticas. Tempos depois, ao finalmente se concretizar, eu trouxe contribuições e respostas à curadoria e ao desafio do Agnaldo. A exposição se realizou com o patrocínio da Caixa Cultural e abriu no Rio de Janeiro em fevereiro de 2009, iniciando uma itinerância por outras capitais brasileiras.

Uma destas fronteiras se materializa cenograficamente em um dos elementos centrais da exposição ao trazer uma característica exclusiva das artes gráficas industriais para o espaço expositivo, alterando a relação do espectador com o material impresso: um banner de tecido acetinado com 1,5m de largura e 45m de comprimento com projetos impressos em alta definição com suas proporções alterados, onde “um selo toma o tamanho de um cartaz e um cartaz o de um selo”.

Mais do que expor projetos de um modo linear, usando as paredes como suporte pra um portfolio, me interessava responder ao desafio de Agnaldo e propor alguma forma de interação que levasse o espectador a uma reflexão sobre o design gráfico e suas articulações, sua possibilidade de atuação, sua pluralidade e abrangência. Para mim o design é fruto direto do contexto cultural, tecnológico e de mercado onde existe e, por tangenciar inúmeras áreas criativas, tem uma capacidade ímpar de envolver o espectador. Busquei assim, no design da exposição, botar os trabalhos pra conversarem entre si e convidarem o público pra esta conversa.

A exposição trata assim, da minha forma de trabalho, e volta-se mais para o processo criativo do que para o resultado. Busca contextualizar meu trabalho, não sendo portanto uma retrospectiva no sentido convencional: é uma reunião de trabalhos que fiz ao longo do meu percurso, onde impressos estão lado-a-lado com originais, reproduções e materiais em vídeo. Alguns projetos antigos podem soar como mais recentes e é difícil para mim estabelecer um recorte cronológico, colocando mais em evidência uma postura criativa do que um estilo.

Itinerância

Caixa Cultural Rio de Janeiro (fevereiro-março 2009)
Instituto Tomie Ohtake SPaulo (maio-julho 2009)
Centro Cultural Correios Recife (fevereiro-março 2010)
Galeria Vicente Leite / FA7 Fortaleza (abril-maio 2010)
Caixa Cultural Curitiba (agosto-outubro 2010)
Caixa Cultural Brasília (novembro-dezembro 2011)

Atividades paralelas

Em todas as suas edições, o projeto “Gráfica de Fronteira” incluiu uma mesa redonda sobre a identidade no design contemporâneo, visitas guiadas à exposição e workshops.

A oficina no Projeto Aprendiz

Na edição paulista da exposição, foi realizada uma oficina Associação Cidade Escola Aprendiz, cuja idéia central era trabalhar sobre a construção de repertório e identidade cultural, a partir de exercício de reciclagem e colagem. Há inúmeras manifestações gráficas populares brasileiras que baseiam-se na reciclagem de materiais impressos (revistas, jornais, folhas de outdoor, listas telefônicas e outros) para impresão de outros materiais e /ou embalagem de frutas, grãos e produtos comprados em feiras, quermesses, estádios, etc.

A matéria prima de nosso trabalho foram as sobras das folhas de prova gráfica utilizadas para a impressão do catálogo da exposição, e o resultado da oficina foi utilizado no evento de abertura, enfatizando não apenas esta característica de nosso design gráfico, mas também o conceito de design enquanto ferramenta promotora de conexões (entre pessoas, entidades, comunidades, saberes), presente em meu trabalho. Dentre outras alternativas que desenvolvemos, foram produzidos inúmeros “cones pra embalar amendoim” usados no coquetel, objeto gráfico integrador destes diversos conteúdos. Estas idéias encontram muitas afinidades com o Projeto Aprendiz, daí a idéia de envolvê-los nesta proposta.

Catálogo

Acompanhou a edição carioca da exposição um catálogo de 144 págs / 5 cores com textos de Agnaldo Farias, Adelia Borges, Rafael Cardoso, André Stolarski e Rico Lins